NÃO ESPERE PERFEIÇÃO
O pepino está amargo, então joga-o fora! Há espinhos no caminho? Então mantém-te afastado! Não é preciso dizer mais. Por que pensar sobre a existência de aborrecimentos? Esse pensamento faria de ti um objeto de riso para o verdadeiro estudioso da Natureza, assim como um carpinteiro ou sapateiro riria se tu chamasses a atenção para a serragem e as lascas de madeira no chão das respectivas oficinas. Contudo, eles dispõem de um lugar para descartar esses resíduos; já a Natureza não tem nenhuma necessidade disso.
Marco Aurélio, Meditações, 8.50

Queremos que tudo corra perfeitamente, por isso dizemos a nós mesmos que vamos começar assim que as condições forem as adequadas, ou uma vez que estejamos orientados. Quando, realmente, seria melhor nos concentrarmos em nos contentarmos com o modo como as coisas realmente são.
Marco Aurélio lembrou a si mesmo: “Não espera a perfeição da República de Platão.” Ele não esperava que o mundo fosse da maneira exata que desejava, mas sabia instintivamente, como o filósofo católico Josef Pieper escreveria mais tarde, que “só pode fazer bem aquele que sabe como são as coisas e qual é a situação delas”.
Hoje, não deixaremos que nossa compreensão honesta do mundo nos impeça de tentar tirar o melhor partido dele. Nem deixaremos que pequenos aborrecimentos e obstáculos menores atrapalhem o importante trabalho que temos de fazer.